terça-feira, 3 de novembro de 2015

"O mundo nos faz distantes, nos resta, portanto, aproximarmo-nos..."

Experimento de Conexão Humana Entre Olhares - Cinelândia - Rio de Janeiro/RJ - Brasil


E de repente o mundo se tornou estranho, um lugar não confiável, cheio de máquinas - humanas e não humanas.

Eu acredito que minha maior dificuldade seja encarar as situações de 'indiferença' da vida. Há anos eu escrevo e falo sobre isso, Talvez eu seja sensível? Empática? Frágil emocionalmente? Sei lá, não me importa.

Atualmente, eu, na reta final da faculdade (quem diria que iria passar tão rápido!), estou fazendo estágio em um Hospital aqui do Rio de Janeiro. Eu sou uma "bunda mole" dentro daquele hospital, qualquer cena de um paciente mais grave, eu sendo impotente ou não, já é capaz de me desestabilizar. Parece que levei milhares de socos no estômago e a minha vontade é sair correndo! Contudo, eu não vou e nem posso fazer isso. Eu sei que faz parte da profissão que eu escolhi e entendo que é uma fase de crescimento tanto profissional como pessoal, são ciclos da vida... O problema é quando eu vejo as pessoas perderem a sensibilidade, quase a ponto de não parecerem seres humanos diante de outros seres humanos. Dizem que o ambiente te deixa mais resistente, que você acaba se acostumando com a rotina da rápida relação vida/morte da alta complexidade. É, talvez... Talvez essas pessoas não tenham perdido seu senso de humanidade, apenas se tornaram mais frias por terem sido tão humanas... Enfim, são especulações.

Porém, não tem sido o hospital que faz algo gritar em mim, é o mundo. É possível viver em um mundo aonde as pessoas sequer conseguem ser gentis, simplesmente por ser, umas com as outras? Zigmund Bauman diz em 'Tempos Líquidos' que a sociedade não é mais uma estrutura, é uma rede, na qual as pessoas se conectam afim de satisfazerem seus próprios desejos e se desligam com extrema facilidade umas das outras. O que nos tornou tão separatistas?

Nós brigamos por esquerda e direita, por religião, por homem e mulher, por homossexualidade e heterossexualidade, por burger king e mc donald's... Ou seja, nós vivemos em zona de guerra. Nós nos agredimos o tempo todo por qualquer besteira, a onda do momento é ser oito ou oitenta, escolha um lado, erga uma bandeira e seja passional, vamos lá! De onde saiu tudo isso?

Estamos em um mundo em que, ajudar alguém a pegar algo do chão é visto como algo sobrenatural, um ato de extrema bondade, oh céus! Quando, na verdade, isso é apenas um resquício da nossa 'estrutura'.

Recentemente, participei de um Experimento de Conexão Humana, chamado Entre Olhares. Pessoas pegaram suas cangas, sentaram no meio de um dos locais mais movimentos do centro do RJ e começaram a se olhar - "se podes olhar vê, se podes ver, repara" (José Saramago). Nós ficamos lá, nos reparando, nos olhando nos olhos, compartilhando olhares, sorrisos, vidas e, embora para muitos isso seja mais uma modinha contemporânea, foi incrível! Era visível que todos precisamos nos conectar uns aos outros, precisamos nos ver, nos enxergar e não somente "saber que existe uma pessoa caminhando do meu lado enquanto me comunico pelo whatsapp".

Então, quando você passa a perceber as pessoas, a vida, as barbaridades, as mortes, as agressões gratuitas, você se sente humano. Você pode chorar e pode rir, você tem esse direito. Você pode (r)existir em meio ao caos. Será que isso vai mudar o mundo pra melhor? Não sei... quer dizer, eu acredito que o mundo tende a piorar, entretanto, ser humano - de verdade - pode tornar alguns desses momentos terríveis, em momentos agradáveis. Sorrir pode mudar o dia de alguém.

E, por fim, me vem a mente a pergunta que ouvi na igreja há dois domingos atrás "de quem eu serei próximo hoje?". Ser próximo não é obrigação de quem frequenta alguma igreja, de quem tem alguma religião, ser próximo e amar e fazer o bem a alguém por que esse outro alguém é semelhante à você!

O mundo nos faz distantes, nos resta, portanto, aproximarmo-nos.


Obrigada e Have Fun!