segunda-feira, 11 de abril de 2011

Contos do Reino #10- A Princesa Amanda e o Dragão

Mateus 18:7-9

Ai do mundo, por causa das coisas que fazem tropeçar! É inevitável que tais coisas aconteçam, mas ai daquele por meio de quem elas acontecem! Se a sua mão ou o seu pé o fizerem tropeçar, corte-os e jogue-os fora. É melhor entrar na vida mutilado ou aleijado do que, tendo as duas mãos ou os dois pés, ser laçado no fogo eterno. E se o seu olho o fizer tropeçar, arranque-o e jogue-o fora. É melhor entrar na vida com um só olho do que, tendo os dois olhos, ser lançado no fogo do inferno.

Hebreus 3:12-13

Cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha um coração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo. Pelo contrário, encorajem uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama "hoje", de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado.

Tiago 1:14-16

Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, quando por esta é arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte. Meus amados irmãos, não se deixem enganar.

A PRINCESA AMANDA E O DRAGÃO

Era uma vez, quando a grama alta crescia ao redor do Lago Marmo. Cada primavera dragões fêmeas vinham do céu, abriam ninhos nas canas, botavam ninhadas de ovos e as enterravam na areia. E uma vez concluída a sua tarefa, os grandes répteis voavam de volta de onde vieram.

Dragões no céu é o primeiro sinal de primavera em Grande Parque. As crianças vêm, com cestas na mão, ansiosas por fazerem caças de ovos de dragões. Elas guardam as suas meias de inverno e acham muito legal irem descalças na areia que rodeia o lago. As crianças apostam corridas, rindo e respirando forte, para verem quem consegue achar um ninho de ovos de dragão primeiro. Elas gritam e fazem a festa quando acham o tesouro.

"Ovos de dragão!" elas gritam. Logo esse grito—"Ovos de dragão!"—ecoa de um lado do lago para o outro.

As crianças sabiam que era proibido ficar com os ovos de dragão...porque um ovo de dragão logo se choca e chega ao tamanho adulto em seis meses. As escamas do dragão nenê ficam duras. Ele começa a lançar fogo. De início, só jatos curtos de ar quente e mais tarde tochas fumegantes. O dragão se torna astuto e não é confiável. Por estas razões, há uma placa nas margens do Lago Marmo que diz: É Proibido Guardar Ovos de Dragão.

Os dois ovos que a Princesa Amanda achou um dia, vários meses depois da chegada de Herói, eram de bronze. Brilhavam como jóias âmbar à luz do sol. Talvez a intenção dela fosse de levá-los até Cuidador. Talvez pensasse que os ovos estavam velhos e estragados por dentro. Talvez ela tenha se esquecido. Mas ela não os levou até a cabana de Cuidador.

Ao invés, ela escondeu os ovos. Ela os escondeu no Meu Lugarzinho, sua cova no oco de uma grande árvore na beira de Campo Relvoso, que era tão distante do Portal de Pedras que poucas pessoas chegavam até lá. Era tão calmo lá que Cuidador visitava essa área poucas vezes ao ano.

O sol da primavera chegou até o chão da cova de Amanda aquecendo o seu esconderijo. Logo, um ovo chacoalhou quando a princesa pegava nele para o inspecionar. Obviamente não havia vida neste ovo. Mas o outro começou a se rachar. Daí algumas horas, um filhotinho de dragão usou o seu bico para se livrar da casca do ovo. O filhotinho grasnou pedindo comida. Seu pescoço estava ainda fraco e balançava na tentativa de manter a cabeça no alto . Seus pés se esforçaram para dar passos equilibrando sua cabeça enorme. Ele acabou batendo o nariz no lado da árvore. Amanda riu.

"Eu preciso levar você para Cuidador", ela pensou em voz alta. "Ele saberá o que fazer com um filhote de dragão inesperado".

A pequena fera virou seu olho marrom para ela e uma grande lágrima pingou no seu peito. Amanda começou a amar o nenê dragão. Mesmo sabendo que era proibido, ela ficou com o filhote como um animal de estimação. Só por um pouco de tempo, ela pensou. Talvez eu consiga domesticá-lo

A princesa deu insetos e raízes para o nenê de hora em hora para mantê-lo vivo. E, por causa desse nutrir dado ao filhote, ela o amava mais ainda. Logo a pele do filhote ficou coberta de escamas macias que ao sol cintilavam a cor bronze.

Aquele verão se ocupou com jogos de filhote de dragão. A pequena fera e Amanda apostavam corridas com as borboletas. Linhas de asas brilhantes e uma princesa suada e um dragão, cada dia crescendo mais, corriam por Campo Relvoso. Outros dias Amanda e o animal pulavam pelas margaridas, para ver quem conseguia dar o pulo mais comprido. Não demorou muito para o filhote ganhar toda vez.

Algumas vezes Amanda arremessava sua bola o mais alto possível, e o filhote pulava, quase na altura das árvores, e fisgava a bola nos seus dentes.

"Eu tenho mira perfeita. Ele tem o talento de pegar perfeito. Devemos ser a dupla perfeita", ela cantou brincando no sol.

Ao chegar no meio do verão, o filhote era grande o suficiente para Amanda se espremer entre os cravos que cresciam nas costas do dragão. Juntos eles voavam acima da grama, se desviando dos galhos e folhas das velhas árvores que cercavam o campo aberto. O filhote soltou um grito jubilante: “Criii!” e Amanda riu com alegria.

Para cima e para baixo eles voaram. Até acima das árvores e até em baixo, nas flores do campo. Amanda segurou como pôde, enquanto o filhote de dragão voava, batendo as suas asas.

Amanda logo descobriu que seu animal de estimação não gostava de ser deixado sozinho. Ele gritava sem dó, quando ela saía para praticar a sua pontaria no campo de treinamento; então, ela começou a praticar menos e menos. O filhote especialmente tinha uma aversão por ser deixado à noite. Sendo que a princesa nem poderia pensar em trazê-lo para o Círculo Íntimo—e até temia a sua morte, caso fosse descoberto — ela começou a se distanciar das Grandes Celebrações.

Uma noite ela entrou meio agachada na sua cova, ao lado da fera, e esta lambeu seu rosto e suas mãos. Com gratidão, esticou-se ao lado dela, respirando fundo por ter ficado. Ela podia ouvir música à distância, vindo da Floresta Profunda, e sentiu saudades dos seu amigos. Criar um filhote apresentava mais exigências do que ela tinha imaginado. Amanda ficou com raiva da lei que a impedia de compartilhar seu animal de estimação com os outros. Que dano pode fazer um pequeno dragão, ela pensou.

Aquela mesma noite ela notou uma luz amarela vislumbrando nos olhos da fera, quando olhava para ela. Quando lambia seu rosto, ela podia sentir que o seu ar era quente e seco.

Depois disso, ao voltar de passeios curtos à procura de comida, Amanda achava as paredes da sua cova chamuscada. O oco estava se tornando mais preto. Cheirava a carvão. O dragão sempre estava feliz em vê-la, mas ela tinha o cuidado de não ficar diretamente em frente do seu nariz e boca.

Mais e mais ela teve de tomar cuidado com seu rabo. Um rabo de dragão adulto é mortal. Um tapa com o rabo poderia mover pedras ou derrubar árvores ou aleijar um homem. Ou matar uma princesa.

Uma vez, quando ela queria pular nas costas do dragão para fazer um passeio, ele deu um salto sem ela. "Criii-i-o! Criii-i-o!" O seu grito tornou-se um desafio ao lançar uma labareda de fogo em sua direção. Pela primeira vez, ele tinha ido diretamente contra a vontade dela.

Cada semana que passava, Amanda ria menos e menos.

Um dia, depois de apostar uma corrida com o dragão pela floresta, ela o deixou tirando uma soneca em um clareira ensolarada e retornou para a sua árvore oca, justo na hora em que Cuidador estava saindo, costas primeiro. A pequena árvore em cima do seu chapéu saiu do buraco como uma cortiça sai de uma garrafa.

"O que aconteceu com as paredes do Meu Lugarzinho?" ele perguntou. "Amanda, você não tem brincado com fogo, tem?"

"Ah! tá assim um tempão”, ela mentiu. "Eu não sei o que causou isso. Talvez Queimadores estiveram aqui no inverno passado".

Amanda quis que Cuidador parasse de usar esse chapéu ridículo que era uma árvore. Como que ela poderia ter achado aquilo tão maravilhoso!

Cuidador ficou olhando para a terra em frente da cova. Ele colocou seu pé em certos lugares. "Tem visto dragões por aqui?" ele perguntou calmamente.

"Dragões?" respondeu Amanda rapidamente. "Recentemente não... a época de dragões já se encerrou".

Cuidador não disse uma palavra, mas começou a sair pela trilha na Floresta. Seu velho bobo, pensou Amanda. Foi neste momento que ele parou e virou-se e olhou para ela tristemente.

"Se você, em qualquer momento, precisar da minha ajuda Amanda, é só pedir." Cuidador olhou bem nos olhos da Amanda por alguns longos minutos e aí deu meia volta e se foi caminho abaixo.

No dia seguinte, ela escondeu o dragão numa outra parte da floresta. Quando ela voltou, esta vez era a Misericórdia que estava sentada no lado de fora da sua cova. Ela é a mulher mais feia que eu já vi, pensou Amanda, meio surpresa. Não queria conversar com ela. Por que eles não me deixam em paz?

"Amanda!" Misericórdia chamou com um sorriso triste. "Eu te vi chegando, antes de ouvi-la. O que tem acontecido com o seu riso?"

Amanda não sabia como responder. Ela tinha mudado? Tudo parecia estar diferente agora. Será que ela estava perdendo o dom de ver? Ou será que ela estava vendo as coisas agora como realmente são? Talvez a Grande Celebração fosse apenas um monte de tolice?

Naquela mesma noite, Amanda percebeu que as escamas do dragão, dormindo ao seu lado, eram muito duras. Ela sabia que seu corpo grande estava deixando Meu Lugarzinho apertado e que dragões crescidos não era piada.

Esta seria a última noite que ela iria deixar o dragão retornar do seu esconderijo e dormir com ela na sua cova. Na manhã seguinte, ela levou o dragão bem no meio da Floresta Profunda e mandou ele ficar lá. Secretamente ela teve a esperança de que o dragão iria sair voando. Ele tinha ficado muito grande e Princesa Amanda estava com medo. De alguma maneira ela precisava livrar-se do dragão. O perigo estava próximo. Ela podia sentir isso.

Numa manhã, alguns dias depois, ela acordou mais cedo. Com os seus olhos ainda fechados, ela desfrutou do conforto de ter lugar o suficiente para se esticar. Era um dia crespo de outono. Ela pôde cheirar o ar crespo e seco. E ela pôde respirar fundo e cheirar...fogo! Amanda deu um pulo e ficou em pé. Folhas secas estavam empilhadas em frente à sua porta. Estavam queimandos. Amanda correu para fora, pisando e espalhando as folhas. Seus pés descalços foram queimados.

Levantando a cabeça, ela percebeu que um toco velho estava enfumaçando, ao lado da trilha. Fumaça estava saindo do arbusto, ao lado da floresta.

Amanda conseguiu ver algo grande e cor de bronze mexer-se entre as árvores. Ela correu para dentro para calçar seus tênis e saiu de novo às pressas.

"Espere! Espere!" ela gritou. Ela começou a correr ao longo da trilha. "Espere por mim!" Ela estava apavorada de que a grama seca pegasse fogo por causa do dragão respirando. Na sua mente ela viu a floresta inteira queimando, as criaturas correndo e ..ai, que terrível! Fogo em Grande Parque! Fogo por causa dela!

De repente, ela sabia: Grande dano podia vir de um pequeno dragão domesticado; coisas pequenas e domesticadas tornam-se feras grandes e ferozes.

E agora, onde estaria Cuidador? Onde? Por que ela não levou o filhote para ele, logo no início? Por que ela mentiu?

A fera, finalmente, a ouviu chamar. Saiu das árvores para o campo e a encarou. Amanda engoliu seco. Tinha crescido mais ainda, e ela não tinha notado o quanto crescera.

A fera enorme estava à sua espera. Seu rabo comprido rastejou-se no chão e a ponta do rabo mexeu-se como um chicote. As garras de uma pata se encravaram no solo debaixo delas, e se abriram de novo, fazendo flexões. Secreção espumosa escorria pelos dentes até seu queixo. Luz amarela estava dentro dos seus olhos. O dragão tornou-se astuto. Por que ela não tinha visto isso?

Amanda tentou se fazer o tão grande quanto possível. Ela ignorou a dor das queimaduras nos seus pés. "Dragão", ela anunciou em seu tom mais majestoso possível, "você precisa ir. Você é muito grande para a minha cova. Dragões crescidos não são permitidos em Grande Parque. Seu sopro está muito quente. Vá embora!"

O dragão olhou para ela com malícia. Ele curvou as costas, como gato a espreita, e chegou mais e mais perto dela. Finalmente, a fera enorme estava próxima. Usou o rabo para dar uma rasteira. Amanda pulou para evitar a ponta do rabo. O dragão puxou mais rápido o grande rabo dentado. Ela pulou de novo. Ele levantou a cabeça e lançou uma tocha de fogo na grama, atrás dela. Ela pôde ouvir a vegetação estalando por causa do calor. Ela sentiu que começou a queimar. Ela virou para pisar no pequeno fogo que tinha começado. O Dragão espirrou mais uma labareda. Mais fogo.

Seu coração se encheu de terror. Uma pequena princesa não consegue apagar todos os incêndios que um grande dragão começa!

O dragão lançou outra labareda. As chamas lamberam sua roupa, seu cabelo. Ela usou suas mãos para se proteger e por fim teve que rolar no chão. Ela viu a grande fera avançando, pouco a pouco, a ponta do rabo posicionado para chicotear e seus olhos ainda mais amarelados. Amanda se retraiu. Ela sabia que era inútil correr. O dragão sempre ganhava as corridas.

"Socorro!" ela gritou. "Cuidador! Cuidador! Eu sou pequena demais para esse dragão terrível. Me ajude!"

De repente, sem ela saber como, Cuidador estava em pé ao lado dela. É provável que ele tenha vindo correndo desde o momento em que as chamas começaram.

"Mate-o! Mate-o!" gritou Amanda. A fera enorme começou a se preparar para dar um bote. Levantou-se e se equilibrou nas duas patas traseiras e rugiu. Labaredas voadoras encheram o ar.

"Não, Amanda", disse o velho homem, "eu não posso matar o dragão. Somente aquele que ama algo proibido pode fazer este trabalho. Você sempre me odiará se eu o fizer. Só você pode matar o dragão!"

Cuidador puxou da sua cinta de prata o seu machado de lenhador. Ele o segurou reto em frente dele e levantou seus olhos ao céu. "Em nome do Rei, Amanda. Pela Restauração...Você precisa assassinar o dragão!"

Cuidador jogou o machado que voou bem alto, e desceu dando cambalhotas para baixo, ponta sobre ponta. O som começou; ouviu-se a música que a princesa sempre tinha amado. O machado caiu perto dos seus pés, a lâmina enfiando-se firmemente no solo. Amanda se esticou e agarrou o cabo de madeira. Ela sentiu o poder do machado ao arrancá-lo.

Com isso tudo, Amanda se achou no centro do Campo Relvoso, e Cuidador tinha se retirado do círculo de combate mortal. Pequenas fogueiras queimaram aqui e ali na grama. Era necessário que a princesa fizesse isso rapidamente. Ela teria somente uma chance.

Subitamente, Amanda teve um pensamento horroroso. Seu riso se foi. Sua visão desapareceu. E se o seu dom de mira perfeita também tivesse sumido?!

O dragão estava muito perto. Ela ficou de olho no seu rabo. Ela sabia que, mesmo tendo sido ela quem o manteve vivo, ele agora queria rasgá-la e devorá-la. O rabo se mexeu. Amanda deu um pulo para evitá-lo. Vinha de novo em sua direção. Desta vez, Amanda estava pronta. Ela acertou o rabo enorme com seu machado. Aí! Um pedaço longo tremia no chão, esguichando sangue verde de dragão.

Talvez haja esperança, pensou Amanda. Realmente foi mira certa. O dragão soltou um berro: "Cri-i-i-i! Cri-i-i-i-i! ¾ não tanto de dor como de raiva. Ele se armou nas patas traseiras, abriu sua boca, e soltou uma labareda de chamas que pegou Amanda por inteiro no rosto. Ela sentiu chamas quentes consumindo seu cabelo, sua roupa.

"Agora Amanda!" gritou Cuidador. "Agora ou nunca!"

Ela mirou com cuidado, levantou o machado, avistou as escamas esbranquiçadas no peito do dragão, que era o único ponto vulnerável dele. "Ao Rei!” Ela gritou. "À Restauração!" Força encheu seu braço. Ela deixou o machado voar.

Naquele mesmo momento, a fera avançou de novo. Pegou a perna da Amanda com o que restava do seu rabo sangrento. Ela foi derrubada até ao chão.

Mas a sua mira foi verdadeira. O machado do Cuidador acertou seu alvo e o grande dragão veio despencando sobre a pequena menina. Meleca verde esparramou-se por todo Campo Relvoso e cobriu a princesa.

Estou morrendo, ela pensou. Vou sufocar debaixo deste corpo pesado do dragão.

Amanda sentiu a mão do Cuidador pegar no seu braço. Com cuidado, e vagarosamente, o velho homem levantou o lado do grande casco do dragão, o tanto necessário para que Amanda pudesse rastejar até a liberdade.

Foi então que Cuidador aninhou a criança em seus braços, no meio do Campo Relvoso, e chorou. O cabelo e sobrancelhas dela estavam crestados. Sua roupa estava preta. Seu rosto e pés cheios de bolhas e fuligem. Ela estava coberta de sangue de dragão. Parecia uma indigente.

Mas a Princesa Amanda venceu a batalha. Ela destruiu o dragão que amava.

Então, a princesa descobriu que, quando alguém ama algo proibido, perde aquilo que mais ama. Esta verdade é uma batalha difícil de ser vencida por qualquer um que a busque, e é sempre ganha por perda.


Obrigada e Have Fun!

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