terça-feira, 5 de abril de 2011

Contos do Reino #4- O Atalaia Incrédulo


Efésios 6:12

Pois a nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais.

Gálatas 5:9

Um pouco de fermento leveda toda a massa.

Romanos 1:17

Pois no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que, do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: “O justo viverá pela fé”.


O ATALAIA INCRÉDULO

Muitos anos atrás, o perigo se aproximava das pessoas mais corajosas e dos lugares mais lindos do Grande Parque. Homens e mulheres nunca eram o que aparentavam ser, pois a mágica, o mistério e a maravilha sempre era possível. E isso não é muito diferente da maneira como as coisas são hoje.

Não muitos dias após o menino Herói ter chegado ao Grande Parque, ele foi explorando-o, atravessando alguns vales e montes em direção ao Lago dos Patos, passando pelas Hortas do Grande Parque, nos Vinhedos de Misericórdia, depois dando a volta pelo Lago Marmo. Ele beirava as bordas da Floresta Profunda para um lugar meio afastado chamado Campo Relvoso. Sentando-se na beira do Pantanal Cantante abriu o saco de lanche que a esposa do Cuidador tinha preparado para ele. Era pão com queijo. Finalmente, ao meio-dia, ele se refrescou nas sombras da Floresta Silvestre.

Pela primeira vez na vida, Herói se sentiu feliz e protegido. Não tinha queimadores atrás dele. Chamas de fogo não o estavam ameaçando. Ele não sabia quem reinava nesse lugar, mas certamente era melhor do que a Cidade Encantada.

De repente, o som de risadas o surpreendeu. Tentando saber de onde vinha, ele encontrou uma menina sentada sobre o tronco de uma árvore com flores entre os seus dedos do pé, fazendo tranças em seu cabelo longo e loiro. Ela parou, esticou o braço e uma borboleta assentou no seu dedo.

Ela girou com o som de sua chegada. Ao vê-la, Herói cobriu o rosto com a mão. Por um momento, ele tinha se esquecido da sua terrível cicatriz.

"Hoje eu acordei mais tarde", ela disse sem demonstrar nenhuma surpresa em vê-lo. Soprou a borboleta que saiu batendo as asas, continuou tirando as flores dos dedos do pé, uma por uma, e colocou-as nas tranças em seu cabelo. "Bem-vindo ao Reino," disse ela com um sorriso.

"O Reino?" Herói perguntou. Todo mundo sabia que tal coisa não existia. Aí ele parou; mas é claro, a menina deve estar fazendo de conta. Ele decidiu entrar na dela. "Ah! e suponho que o seu pai é o Rei".

"Ah!, não", ela respondeu. "O Rei é o meu irmão mais velho, assim como ele é o irmão de todos os que crêem".

Herói tentou não mostrar suas dúvidas. "E, então, você deve ser uma princesa", ele caçoava observando os jeans e a camisa desbotada.

"Sim". A menina estava amarrando o seu tênis. Ao terminar, ela ficou em pé bem reta, elegantemente fez a reverência, segurando os lados de sua calça: “Sou a Princesa Amanda. Bem-vindo, Herói”.

Herói disfarçou uma risada e ficou surpreso por ela saber o seu nome. Antes dele poder prosseguir, a menina cuspiu.

"Consegue fazer isso?" ela perguntou.

Qualquer um consegue cuspir, pensou Herói. Ele cuspiu no chão.

"Ah, mas consegue fazer isso? Consegue acertar aquele cogumelo ali?" O cogumelo era pequeno e estava numa distância de cinco metros. Amanda cuspiu de novo e acertou na mosca! Herói não conhecia ninguém que conseguisse fazer isso.

"É um dom", disse Amanda. "Eu tenho a mira certa".

"Ela cuspiu de novo e acertou exatamente no nó de uma árvore. "Eu estava a caminho do campo onde praticamos isso, mas pensei em colher algumas flores para o meu cabelo. Estamos ensaiando para a Grande Celebração. Qual é o seu dom, Herói?"

O menino pensou, mas nada lhe veio à mente. Ele agradeceu, quando a conversa foi interrompida por um grito que ressoou pela floresta. "Como vai o mundo?"

Ele ouviu uma resposta: "O mundo não vai bem".

Depois uma outra resposta: "O Reino está chegando".

"Este é o grito da vigilância", explicou Amanda. "Vai de torre em torre. Os Atalaias vigiam. Eles protegem o parque contra Queimadores e Negadores. Eles também ficam de olho em pessoas feridas, fogo na floresta, e protegem os abandonados. Seus corações são cheios de coragem e bravura" disse Amanda, ao começar a sua caminhada até ao campo de ensaio.

"Espere! Espere!" gritou Herói. "Não estou entendendo. Não estou entendendo nada."

Amanda parou. Fios de cabelo já estavam soltos das suas tranças e algumas flores já haviam caído.

"O que é um reino? O reino de quê? Onde está o reino?"

O queixo de Amanda caiu. Ela riu surpresa. "Ué, esta é a primeira regra do Grande Parque: O Reino é Qualquer Lugar Onde o Rei Reina!"

O menino sentiu-se bobo. A resposta parecia óbvia, mas ele ainda não estava entendendo. "Eu pensava que isto era um parque".

"Claro que é, é um Grande Parque. E o Reino está nele. É aqui onde o Rei reina, em exílio. Mas o Reino não é somente aqui, é qualquer lugar onde o Rei é obedecido. E algum dia o Reino do Rei será restaurado na Cidade Encantada... e em todo o lugar. É por essa razão que clamamos: "Ao Rei! À Restauração!"

Herói estava considerando todas essas coisas quando, de repente, tocou bem alto uma trombeta na floresta. Foi respondida com outro e mais outro. FÓÓÓiiiiiiii! FÓÓÓiiiiiiii!

Amanda soltou as flores. Seu corpo ficou tenso para ação. O sorriso deixou seus olhos. "Perigo!" ela gritou. "Trombetas de Atalaias. Estão dando um alarme".

As trombetas soaram de novo. Desta vez três rajadas curtas. Fói! Fói! Fói!

"Fogo! Fogo na floresta!" Amanda gritou. "Venha! Precisamos ajudar. As trombetas estão dando o sinal de que precisam de ajuda!"

Herói sentiu uma caverna oca se abrir na boca de seu estômago. Fogo? O seu velho pavor subiu e causou náusea. Uma visão de fumaça e pilares de fogo lampejou atrás de seus olhos, assim como tambores de morte e pira funerária. A marca no seu rosto começou a latejar; e ele a cobriu com sua mão.

Amanda nem notou. "Venha!" ela gritou. Ela pegou firme no braço do menino mais velho e saiu correndo com ele pela floresta. "Precisamos ir depressa!"

Os dois correram até um pavilhão construído à beira da Floresta Profunda. Centenas de Atalaias estavam reunidos, homens e mulheres usando capas longas e azuis com fivelas prateadas nos ombros. Alguns pegavam baldes, outros pás e vassouras, enquanto se apressavam para dentro do prédio espaçoso.

Herói e a Princesa Amanda também entraram e foram levados pela multidão até a frente do grande salão. Na plataforma estava um homem alto, que parecia poderoso. Estava examinando mapas, dando ordens, enviando grupos pequenos de Atalaias para a esquerda e para a direita.

Finalmente, ele levantou a mão pedindo por silêncio. O salão ficou logo quieto, o homem na frente continuou sustentando sua mão bem alto. Herói notou que o seu cabelo preto tinha listas de cinza. Os olhos escuros brilhavam como fogo. Ele parecia ser um rei, se é que havia um rei.

Amanda respondeu a pergunta interior dele. "Não, este não é o Rei. É o Atalaia Comandante".

"Fogo na floresta", anunciou o Comandante. Ele apontou para os mapas espalhados nos grandes quadros. "Dois fogos começaram em pontos distantes dentro de um curto prazo. Aqui e aqui".

Um murmúrio baixo se espalhou pelo salão. Isso só poderia significar uma coisa: alguém planejando colocar fogo na floresta inteira.

"Estes fogos estão na terceira e na quarta região florestal, nos distritos treze e quinze da brigada. O esquadrão de primeiros socorros já está em posição".

O Atalaia Comandante virou-se para os mapas e explicou a estratégia. "Mobilizem-se imediatamente. O grupo com machados e pás deve atuar desse lado e desse. O grupo com baldes, logo atrás. Estejam prontos para irem contra o fogo; mas esperem pelo sinal das trombetas para darem início. Lembrem-se: não mais fogo do que o necessário".

Ele olhou para o pessoal com expectativa. Herói ficou impressionado ao sentir o comando absoluto do homem. "Trabalhem duro", ele disse. "Orem por ventos calmos, chamem a chuva".

Depois ele gritou: "Ao Rei! À Restauração!"

O pavilhão reverteu o grito com cada Atalaia, erguendo um machado: "Ao Rei! À Restauração!" Depois veio agitação, arrastar de botas, tumulto de Esquadrões de Combate ao Fogo, todos correndo para suas tarefas.

Em um instante o Atalaia Comandante estava ao lado de Amanda e Herói. "Venha comigo", disse à pequena menina. "Os seus dons de visão serão úteis para mim. E você, rapaz, venha também. Poderá dar uma força para uma brigada. Amanda vai lhe mostrar o que fazer, ao terminarmos". O homem deu meia-volta e saiu apressadamente.

Confuso, aliviado e estranhamente desapontado, Herói seguiu. Ele estava dividido entre querer fazer parte do drama ou não.

O homem forte se apressou para uma torre de vigia próxima e subiu a escada, dois degraus de cada vez. Amanda e Herói fizeram o melhor possível para manter o pique.

No topo, Herói conseguiu ver todo o Grande Parque. Será que havia outro lugar tão belo? Na Cidade Encantada estava certo que não. O Atalaia deste posto logo se aproximou e colocou o dedo na direção de duas colunas de fumaça, a distância, na Floresta Profunda.

"Dois fogos pequenos, começando agora", ele reportou. "Quatro quilômetros de distância uma da outra. A equipe de bombardeamento do Lago Marmo poderá levar água até aquela primeira posição, se o fogo progredir. Mas o segundo parece ser mais difícil. Um fogo bem colocado ao seu redor é provavelmente a melhor estratégia".

De repente a Amanda apontou "Olhe! Logo ali à esquerda". Todos os quatro forçaram a vista. Antes de Herói poder ver qualquer coisa, o Atalaia do posto tirou uma grande trombeta do seu lugar pendurada na parede. Ele saiu para a sacada, que era cercada, e deu três toques curtos, Fói! Fói! Fói!

Numa fração de segundos, os toques foram respondidos pelas torres vizinhas, e pelas outras mais distantes, e assim por toda a floresta.

"Um fogo novo", explicou o Atalaia Comandante para Herói, com um tom sério. O homem apontou "está vendo a segunda coluna de fumaça? Olhe para o norte. O fogo novo está no distrito 21".

Então, o Atalaia Comandante virou-se para Amanda. "O que você vê?"

A princesa dirigiu os olhos para dentro da Floresta Profunda. E depois, para a surpresa de Herói, ela fechou seus olhos. Um momento silencioso passou e parecia que a menina tinha perdido todo o sentido ao seu redor. Herói teve o pressentimento de que ela estava olhando para dentro de coisas que outras pessoas nunca podiam ver. Ela respondeu: "Um manto azul...Um homem correndo...uma tocha acesa..."

Ela abriu os olhos. Estavam grandes e horrorizados. O Atalaia Comandante olhou para o outro Atalaia, e eles ficaram chocados ao saber que o ofensor usava um manto de Atalaia. "Estamos em maior perigo do que imaginamos", disse o Comandante com uma voz de preocupação.

Naquela tarde mais três incêndios se alastraram na Floresta Profunda, ao todo seis. Herói acompanhou Amanda, levando baldes de água para os homens que estavam com sede, por causa da luta contra o fogo, labareda por labareda. As duas primeiras áreas incendiadas foram rapidamente dominadas: uma por água bombeada do Lago Marmo, e a outra abafada com latas de terra tiradas do chão da floresta. Mas o terceiro fogo começou a se alastrar fazendo um caminho preto pela floresta, antes que os Atalaias conseguissem chegar até ele. Os que lutavam contra o fogo começaram a cortar raízes e grama com seus machados, a uma certa distância das chamas invasoras. Turmas de suporte capinavam um círculo com suas enxadas e depois varriam qualquer tipo de folha ou galho para que o fogo não tivesse como se espalhar .

Mas ainda uma parede de chamas aproximava-se bruscamente, chegando mais e mais perto de Herói, que estava paralisada diante de seu velho inimigo, e não pôde se mexer e nem gritar por ajuda. Ele nem conseguia jogar o cesto de comida que estava carregando para os trabalhadores.

Logo a brigada começou o fogo de trás, uma parede de chamas que logo cresceu até o céu. Os Atalaias estavam lutando fogo com fogo, usando este fogo de trás para rodear as outras chamas para que nada ficasse para o fogo consumir.

Herói estava preso entre os dois. Ele viu as chamas ficarem mais e mais altas e mais e mais quentes. Os olhos do menino começou a queimar e sua visão ficou embaçada de tal modo que não conseguia ver nada distintamente, só muros maciços de vermelho, laranja e escarlate. E o seu corpo ficou estático.

A fumaça penetrante queimou sua garganta, sufocando-o. À distância ele pensou que ouvia sons familiares dos tambores da morte: Um-pa-pa...Um-pa-pa...Um-pa-pa-dim...

Subitamente, do nada, um Atalaia apareceu ao seu lado. Ele jogou o menino nos seus ombros como um saco de batata, agarrou o cesto, e correu de volta para um lugar seguro. Mudo, Herói assistiu enquanto o fogo que eles acenderam pulava e dançava, se alimentando de tudo que queimava dentro do anel. As duas paredes avançaram em cima uma da outra. Finalmente as chamas se abraçaram, inflamaram, e depois de um longo tempo morreram porque não tinham mais nada para queimar.

Logo, então, um hino começou a subir dos lábios dos homens e mulheres cansados, seus rostos ainda pretos da fumaça. "Ele é a chama que brilha mais forte, saltando no coração do homem. Ele é o anel de fogo dentro da alma de cada um que a todos aquece para a existência. O Rei! Nosso Rei é o Rei do fogo e da chama!"

O Atalaia, que tinha socorrido Herói, o cobriu com seu manto longo e azul, que tinha o cheiro de cinzas e fumaça. Ele tirou um pão do cesto, partiu um pedaço, e deu para Herói. "Não está acostumado a apagar fogo, hein? É trabalho duro! Mas acho que acabou. Este aqui já está sob controle. Cuidador fará o resto para nós. Sente a chegada da chuva no vento? Cuidador está fazendo os seus velhos truques! É isso aí! A chuva já vai chegar".

Herói ficou encucado, o que aquele velho engraçado tinha a ver com o fato de chover ou não? Mas, realmente, ele podia sentir o toque suave do ar fresco no seu rosto. Splesh! Uma gota grande de chuva caiu, e depois outra e mais outra, e mais e mais rápido.

Acima da floresta, bem alto nas torres, os Atalaias tocaram suas trombetas em três toques curtos: Fói! Fói! Fói!

Como se fosse o som das trombetas a causa de Amanda achá-lo, ela apareceu ao lado de Herói; seu cabelo estava ensopado; seu rosto listrado com cinzas, mas estava dançando. Ela dava voltas e mais voltas, suas mãos levantadas para o céu. "Ai, aquele maravilhoso, engraçadinho, velho Cuidador. Ele fez de novo. Ele chamou a chuva."

Ela inclinou sua cabeça para trás e abriu a boca, bebendo a água fresca. De repente, ela ficou parada, como se tivesse lembrado algo que tinha esquecido.

"Os toques de trombeta! Estão chamando todos para um conselho!" Pela segunda vez aquele dia, a jovem pegou firme a mão de Herói, e o arrastou para acompanhá-la. "Eu esqueci! Esqueci! O Atalaia Comandante precisa da minha visão!"

O rapaz e a moça correram até o pavilhão com outras centenas de pessoas que responderam à convocação. Quando entraram, viram a Misericórdia que tinha organizado uma estação de primeiros socorros nos fundos. Era uma confusão de panelas fervendo com ervas, panos rasgados e colchões, mas a senhora idosa trabalhava com eficiência, acalmando os feridos.

Uma vez que todos os Atalaias se ajuntaram, pingando e exaustos, o Atalaia Comandante foi até ao centro da plataforma e levantou a mão pedindo silêncio. "Todos em suas divisões!" ordenou.

Todos no pavilhão se mexeram e se misturaram até acharem suas turmas. Atalaias machucados mancavam com esforço para se juntarem a suas equipes apropriadas. Herói observou de um canto.

"Todos presentes?" perguntou o Atalaia Comandante.

A contagem começou: "Divisão Um, presente e todos contados senhor". "Divisão Dois, presente e todos contados, senhor". E assim prosseguiram os gritos, um por um. Milagrosamente, nem um Atalaia estava ausente.

Com isso o Comandante, com olhos avermelhados, chamou: "Amanda! Venha à frente! Misericórdia, esposa do Cuidador! Venha à frente!" A princesa deu dois passos para frente e a senhora idosa veio do fundo do pavilhão, ainda com um rolo de faixas na mão.

"Ao meu lado!" ordenou o Atalaia Comandante, e as duas se posicionaram, uma de cada lado.

"O que você vê Princesa?" perguntou o Comandante.

Amanda fechou seus olhos e respondeu. "Ainda, um manto azul, um homem correndo, uma tocha acesa".

"O que você vê?" o Comandante perguntou à velha Misericórdia.

Ela abaixou a cabeça. "O mesmo".

"Um traidor", murmurou o homem poderoso. Sua voz estava baixa, rouca, mas todos no pavilhão escutaram. "Um incrédulo".

"Prova na passagem", ordenou o Comandante.

Sem hesitar, cada Atalaia marchou um por um, no círculo desenhado no chão do pavilhão ¾ o Círculo dos Desígnios ¾ para apresentar-se a esses três que olhavam profundamente dentro do coração de cada um. Os puros passaram sem hesitação, marchando até o centro e saindo. Mas aqueles que tinham uma sombra sobre as suas almas tinham muito receio de que chegasse a sua vez.

Mais ou menos na metade da fila de Atalaias, Misericórdia fez um sinal com suas mãos. O Atalaia que estava no centro de visão parou. Ele colocou sua mão por baixo do seu manto. O Atalaia Comandante olhou para Misericórdia, questionando.

Sua cabeça desceu e subiu.

Ele olhou para Princesa.

Ela fez o mesmo.

Com isso o Atalaia incrédulo soltou um grito de angústia: "Não-o-o-o!" Ele puxou seu machado que estava embaixo do seu manto. Girando, com o machado esticado nas duas mãos, ele gritou: "Fiquem longe! Longe!"

Quando o Atalaia conseguiu abrir bem o círculo em volta dele, parou, ergueu o machado, e mirou para acertar o Atalaia Comandante.

"Quem é você?" perguntou o Comandante, absolutamente calmo, como se a sua vida não estivesse em perigo mortal. "E por que o seu coração tem se tornado incrédulo?"

"Eu sou um homem do Rei! Faço parte da divisão dos protetores! Você não tem me julgado corretamente. Você tem cometido um erro".

A voz da Misericórdia era baixa, triste, e gentil. "Não, senhor. É você. Temos visto".

"Arrependa-se", disse o Atalaia Comandante, com sua voz áspera. "Arrependa-se e mude! O Reino será aberto para você novamente."

"Não me arrependerei!" O Atalaia incrédulo segurou o machado acima da sua cabeça. "Eu não me rebaixo! Um movimento seu e se arrependerá!" Sacudiu a arma ameaçando.

Destemida, a Princesa Amanda rapidamente sacou o machado do Cuidador, do cinto prateado que cingia o Atalaia Comandante. "Se jogar isso, se arrependerá", ela gritou. Herói observou, enquanto a menina mirou a lâmina na direção do centro do círculo vazio. Cuidadosamente, ela enquadrou seu alvo. Ela girou o machado em torno da sua cabeça várias vezes. Um som começou a ser emitido, o mesmo som misterioso que Herói ouviu quando entrou pela primeira vez no Grande Parque.

A menina deu um passo para frente e soltou uma arma ressonante, que foi girando até bater no machado que estava na mão do Atalaia incrédulo, e o fez voar até cravar-se na parede distante.

O salão ficou absolutamente quieto. O coração de Herói ficou na boca. Cuspir em cogumelos era uma coisa, mas a habilidade da menina em um combate era outra.

O Atalaia Comandante falou: "Você tem amado demais o poder do fogo. Este poder controla você. Pela segurança do Grande Parque, terei que bani-lo à Cidade Encantada como punição. Ali encontrará fogo o bastante.... Ore para que não queime a sua alma".

Passos compassados ecoaram pelo salão, marcados e em ordem. Um grupo de Atalaias com mantos azuis cercou o homem. Um arrancou a fivela prateada do seu ombro, outro tirou seu manto longo e azul, e outro exigiu que entregasse o cinto que tinha uma fivela também de prata. Finalmente, um outro recolheu todas as vestes do Atalaia incrédulo e colocou-as nas mãos de Misericórdia.

Os Atalaias fecharam o círculo ao redor do traidor e o conduziram para fora do pavilhão. Um silêncio terrível e pesado caiu sobre os homens e mulheres cansados que ficaram para trás, depois que o Atalaia incrédulo saiu. Pela primeira vez, aquele dia Herói viu a cabeça nobre do Atalaia Comandante cair de cansaço. "Orem", ele sussurrou, "que os incrédulos possam mais uma vez desejar seguir o Rei".

O que aconteceria com o Atalaia incrédulo na Cidade Encantada? Herói pensou. Ele ainda não tinha encontrado o Rei, mas o menino sabia naquele momento que ele preferia estar entre estas pessoas que usavam o nome do Rei em vez de estar entre quaisquer outros. Se necessário, ele daria a sua vida pelo Grande Parque.

Então, o menino aprendeu que o Reino é um lugar onde não basta proferir o nome do Rei. É necessário fazer a vontade do Rei, do jeito do Rei, ou perder o Reino por completo.


Obrigada e Have Fun!

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