quarta-feira, 6 de abril de 2011

Contos do Reino #5- Uma Menina Chamada Suja


Colossenses 2:13,14

Quando vocês estavam mortos em transgressões e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou juntamente com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões, e cancelou o escrito de dívida, que consistia em ordenanças, o qual se nos opunha. Ele o removeu, pregando-o na cruz, e, tendo despojado os poderes e autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz.

Ezequiel 36:25-27

Então, jogarei água pura sobre vocês, para limpar todos os seus pecados. Vocês ficarão purificados de todas as coisas erradas que fizeram e do terrível pecado da adoração de imagens. Darei a vocês um coração novo, com novos pensamentos e desejos. Darei a vocês um espírito novo. Em vez de terem corações duros como pedra, que só queriam saber de pecar, vocês terão corações de carne, para poderem Me obedecer. Colocarei dentro de vocês o meu Espírito; assim vocês serão capazes de viver conforme as minhas leis, e obedecer os meus mandamentos.

UMA MENINA CHAMADA SUJA

Sempre, e para sempre, o Cuidador do Grande Parque trazia aqueles que estavam machucados ou amedrontados, doentes ou quebrados, à sua esposa Misericórdia, porque ela era sábia e tudo que tocava se transformava no melhor....

Com exceção da Suja. Suja se recusava a tornar-se melhor. Cuidador a tinha achado, no lado de fora do Portal de Pedras, fuçando em busca de comida, após um Queimador tê-la espancado. A criança estava coberta de machucados e feridas.

Quando Cuidador se aproximou , ela ficou em pé imediatamente e gritou: "Sou Suja! Nunca me lavo! Nunca Choro! Luto contra tudo que ergue sua mão contra mim!" Aí desmaiou por causa de suas feridas e fome.

Foi então que Cuidador a trouxe até Misericórdia. Mas nem mesmo os esforços da senhora idosa ajudaram a menina a desfrutar a vida no Grande Parque. Suja odiava a cabana. Ela desprezava as pessoas que moravam lá. Achava que Cuidador, com seu chapéu de árvore e seus bolsos que soavam com tons metálicos, era bobo. Ela odiava a cicatriz feia do Herói.

"Eu não vou morar com aqueles doidos!" ela declarou um dia, enquanto saía grunhindo em direção ao curral para ir morar com os porcos.

Daquele dia em diante, ela perambulava pela lama e dormia nos barracões. Ensaiava seus grunhidos de porco. Aprendeu a fazer as chamadas que os porcos faziam: "Hoi-soi-soi-soi-hoi!" Ela viu as porcas terem porquinhos, e fez deles seus animais de estimação. E como eram gentis! Ela os amava.

Porém, se recusava a amar as pessoas.

Uma outra exclusa estava morando na cabana, uma menina da idade de Suja; ela sofria de uma doença, que a tornou aleijada. Suja odiava a Aleijadinha porque ela era feia.

"Sui! Sui!" ela dizia a seus porcos. "Como podem viver com essa coisa feia? Por que não se livram dela?"

Suja sentava-se em cima de uma grande porca e observava quando Cuidador carregava Aleijadinha nos braços e a colocava à luz aconchegante do sol. Ela escutava a voz rouca da dona da casa a cantar cânticos. Suja fazia grunhidos para abafar o som.

Primeiro, Misericórdia tentou persuadir a menina a vir para dentro da cabana para as refeições, mas ela não queria. Depois, Misericórdia levava comida nutritiva até os montes de refugo, onde Suja gostava de sentar-se, e lá ela comia com a menina. Finalmente, Suja recusou qualquer tipo de comida da mão de Misericórdia.

"Posso comer os restos com os porcos", ela disse. "Se fazem bem para os porcos, então vão fazer bem para mim!"

Finalmente, o casal, que era sábio, decidiu deixar Suja a sós. A menina teria que aprender que o que era bom para porcos, nem sempre era o certo para crianças.

E então, a Suja vivia nos barracões ao redor do quintal da cabana do Cuidador e nunca saía de lá ¾ com a exceção de rastejar para dentro da Floresta Profunda em noites de Grande Celebração. Suja gostava de ouvir os cânticos e de ver as danças, o banquete e a comunhão alegre. Ela se escondia tão bem que nenhum dos súditos do Rei sabia que Suja os observava, em noites quando as Chamas do Círculo Sagrado eram acesas.

De início, a entrada ¾ a hora em que todos os súditos tornam-se reais ¾ parecia estupidez para Suja. Ela ficou irritada ao descobrir que a vaidosa Amanda era realmente uma Princesa. Ela pensava que todo esse ar da Amanda fosse só orgulho. Ficou furiosa quando Misericórdia passou pelas chamas sagradas e se tornou a mulher mais bela de todas. Bufou quando o Cuidador bobo se tornou o Atalaia Comandante.

Que tipo de truque eles estavam tentando fazer com ela?

Agora fazia sentido porque eram sempre felizes e bondosos. Será fácil rir se você realmente é uma princesa. Será fácil ser boa se você realmente é bonita. Qualquer um poderia ser bom se tivesse tanto poder.

Mas, e se você só fosse uma pessoa ordinária que nunca se tornou algo de especial? A vida então não seria tão fácil assim. Suja odiava os súditos do Rei mais ainda, mas por alguma razão não conseguia ficar longe das Grandes Celebrações que eles faziam.

Numa noite, Suja se escondeu num buraco dentro de uma árvore, e observava os celebrantes fazerem entrada pelas Chamas Sagradas. Olhando através do fogo dançante, ela conseguia ver que mesas estavam sendo preparadas com comida gloriosa destinada a um banquete. Ela trouxe do chiqueiro dos porcos uma espiga de milho seco e estava tentando mastigar os caroços duros.

De repente, ouviu alguém gritando: "Uma caridade! Dê uma ajuda ao pobre!" Ela colocou a sua cabeça no lado de fora e viu que era um mendigo com a roupa toda rasgada e esfiapada de tanto usar.

Tarde demais! Ela foi pega! O mendigo a avistou e estava vindo em sua direção. Ela grunhiu e grunhiu, pensando que isso iria assustá-lo. Ele se agachou, olhou para ela bem nos olhos, em seu esconderijo dentro da árvore. "Você não vem para a Grande Celebração?" o homem perguntou.

Suja saiu do seu esconderijo, agachou-se e ficou de joelhos e mãos no chão e esticou o seu nariz até o chão. Ela bufou, grunhiu como porco: "Hoi-soi-soi-soi-hoi!"

O mendigo não aceitou a idéia que ela fosse uma porca. "Venha", ele disse. "Venha! Passe pelas chamas comigo. Seja a minha convidada no banquete".

Suja olhou para ele, mostrou os dentes, grunhiu de novo. Ela disse: "Sui! Sui! Ir com você? Você não passa de um mendigo feio! Eu prefiro estar com os porcos!"

O mendigo tocou gentilmente seu ombro. Suja se retraiu, mas sentiu um calor no lugar onde a mão do mendigo tinha tocado.

"Ah, Suja", ele disse, "você não sabe? Todos os súditos do Rei não são nada mais do que mendigos feios".

Com isso, ele se retirou. Ela ficou abismada porque ele não bateu nem soltou um berro tipo: "Sua porca! Quem é você para me chamar de feio?"

Suja observou o mendigo fazer entrada. Ela ouviu os Atalaias o saudarem. Ela viu o alvoroço feliz de cumprimentos no Círculo Íntimo. Ela viu o mendigo tornar-se real. Pelas chamas ela viu que ele era o mais lindo de todos os homens que já tinha visto. Ele era o próprio Rei.

E ele a tinha convidado para ir com ele....

Naquele momento, Suja, fedorenta e descuidada, começou a amar o Rei. Um desejo encheu seu coração: ela queria ser tão linda quanto ele.

A música para a celebração começou. O Rei desapareceu dentro da multidão feliz. Suja se escondeu novamente no seu buraco. De lá, conseguia ver os atrasados que se apressavam em fazer entrada. À distância, ela pôde avistar Misericórdia e Cuidador ligeiramente passando pela floresta em direção às Chamas Sagradas.

Ao se aproximarem, Suja conseguiu ver que estavam carregando Aleijadinha sobre os braços trançados. Eles a levavam para a celebração.

Suja queria ver isso melhor. Arrastou-se para fora do seu buraco para ver se aquela criatura feia iria tornar-se real. Ela olhou bem para os três ao proferirem o voto do Reino: "Ao Rei! À Restauração!" Ela prestou atenção quando passaram pelas chamas.

Ha! Exclamou Suja. Misericórdia tornou-se linda. Cuidador tornou-se o Atalaia Comandante. Mas Aleijadinha ainda estava deformada.

Mas espere! Espere! O que é que Atalaia Comandante e Misericórdia estavam fazendo agora? A multidão se dividiu quando os viu carregando Aleijadinha, para abrir caminho. . .ao Rei!

Suja acompanhou enquanto o Rei sorria para Aleijadinha. Ele agachou-se e a pegou em seus braços. Viu o Rei segurar bem de perto a cabecinha daquela menina estúpida. Aquele homem lindo estava segurando aquela coisa feia! Estava conversando com ela.

Não! Não! pensou Suja. Ele convidou a mim!"

Aí, Suja arregalou os olhos. O Rei abaixou a cabeça e beijou a menina que estava nos seus braços. Com o seu beijo, ela de repente ficou real. Seu corpo ficou reto. Ela estava linda e radiante.

Poderia ter sido eu, pensou Suja. Se eu não tivesse agido tanto como uma porca. Se eu...

Suja ficou cheia de raiva. "Sui! Sui! Seus estúpidos! Seus nojentos!" Mas ela realmente estava irada consigo mesma. A menina saiu pela noite guinchando. Voltou para os porcos, de volta às únicas coisas que ela decidiu amar.

Na manhã seguinte, Suja estava lá sentada em cima do monte de refugo e viu Cuidador carregar Aleijadinha para o seu lugar à luz do sol .

Há! Ela exclamou. Sui! Sui! Ela ainda é uma aleijada feia.

Mas espere um pouco! Aleijadinha estava cantando. A menina porca engatinhou para fora do portão para poder examinar Aleijadinha mais de perto.

Ouvindo um barulho, Aleijadinha virou o rosto para ver a menina que rastejava. Sua face tinha a mesma beleza que teve quando o Rei a beijou! Até Suja sabia que ninguém poderia pensar que a menina era feia uma vez que contemplasse o seu rosto, pois brilhava.

Então é isso que acontece quando se recebe um beijo do Rei, pensou Suja. Ela se lembrou do toque caloroso e gentil de sua mão.

O pensamento de voltar para os porcos tornou-se horrível agora. Só de pensar na lama, era nojento. Só de imaginar-se morando no chiqueiro, comer restos, era algo terrível. Suja estava disposta a deixar tudo isso em troca de mais uma chance, para poder dizer: "Sim, eu adoraria ser a sua convidada..."

Mas era tarde demais. Ela tinha se tornado mais porca do que nunca. Ele nunca a iria amar, nunca iria dar um beijo nela.

Quando ela se deu conta de que estava chorando em frente à menina do rosto radiante, ela saiu correndo pela floresta afora. Levou dias para Cuidador achá-la. Quando ele finalmente conseguiu achá-la, as suas mãos e seu rosto estavam limpos. Seu cabelo e as unhas tinham sido lavados no lago Marmo. Sua roupa tinha sido esfregada num riacho ali pertinho. Mas ela ainda estava chorando.

Cuidador a pegou nos braços, soltando um barulhinho de tinidos, e a carregou, como fazia com todas as coisas feridas, até Misericórdia.

Misericórdia ficou encantada. "Ué? Quem temos aqui?" ela perguntou.

"Sou-sou a Su-Suja", a menina respondeu com soluços.

"Mas você está limpa", Misericórdia disse, tentando fazer um elogio.

"Não, não!" a criança berrou mais ainda. "Eu tenho me lavado e me esfregado, mas ainda continuo suja. Sou uma porca por dentro. O Rei nunca vai me amar. É muito tarde!"

Misericórdia balançou a cabeça já que sabia melhor. "Vamos ver o que o Rei tem a dizer sobre isso".

Então, Misericórdia levou a menina porca para a próxima Grande Celebração. Atalaias estavam todos posicionados ao redor do Círculo de chamas. Suja puxou a capa de um e perguntou: "O mendigo vem hoje à noite?"

Quando o homem alto balançou a cabeça que não, seu coração se partiu.

Suja seguiu Misericórdia até que começou a passar pelo fogo. O calor escaldou o coração da menina porca. Parecia que tudo dentro dela estava sendo queimado. A menina gritou, e Misericórdia colocou seus braços em volta dela. Ela sussurrou, "Não tenha medo. A dor é momentânea".

"Não adianta! Não adianta!" Suja gritou. "O Rei não vai vir! É ele quem eu preciso ver. Mais ninguém pode me tornar. . . limpa". Com isso as duas fizeram passagem, e a menina olhou para cima e viu a beleza indescritível da jovem Misericórdia, seu cabelo preto e longo agora chegando à sua cintura.

Misericórdia pegou na mão da menina. "Deixe-me te contar um segredo maravilhoso", disse ela. "Todas as pessoas do Reino conhecem este segredo. É uma das primeiras lições que aprendem. O Rei não precisa vir para que possamos vê-lo. Ele está sempre presente".

Suja parou de chorar. Ela olhou para Misericórdia. "Não estou entendendo o que você está querendo dizer".

"Escute", disse Misericórdia. Ela colocou o seu dedo nos lábios em sinal de silêncio. "Escute, e vai poder ouvi-lo falando. Dê ouvidos. Ele tem algo para te dizer".

Suja limpou as lágrimas, fechou os olhos e abriu os ouvidos o melhor possível.

Sim, havia algo. Ela pôde ouvir alguém falando. Era a voz do Rei Mendigo. Ele estava dizendo, Venha, venha comigo. Seja a minha convidada especial para o banquete.

Suja manteve seus olhos fechados. Seu convidado especial... Ela podia sentir algo sendo despejado sobre ela. Fluiu por dentro dela, começando na sua cabeça, depois passando por trás dos seus olhos, invadindo todos os nós e lugares torcidos no seu interior. Era quente, gentil e fluido.

Misericórdia assoprou: "É o Amor do Rei, Suja. O Amor do Rei".

Suja podia ouvir a voz de novo. O Rei estava rindo. Aí ele parou. Ele disse: "Estou tão feliz porque você preferiu estar comigo do que com os porcos".

A inundação calorosa já tinha chegado aos dedos do pé. Suja se sentiu como se estivesse sendo segurada pelo Rei, assim como Aleijadinha o foi. Ela sentiu o seu beijo. Misericórdia estava certa: não era necessário ver o Rei para ser envolvida pelo poder do seu amor.

Suja começou a ouvir música. Os violinistas e os tocadores de harpas tinham começado a tocar. Era a hora da dança que dava início às celebrações. Ela já tinha visto isto muitas vezes do lado de fora. Agora, ela estava bem no centro. Todos os súditos deram-se as mãos em um grande círculo.

Suja queria dançar. Ela queria cantar e gritar. Ela olhou para Misericórdia. "O Rei realmente me ama! Estou limpa! Estou limpa! O rei me fez pura!"

Misericórdia a pegou pela mão e a trouxe mais para dentro do círculo dos que estavam dançando dentro das Chamas Sagradas. Alguém pegou a outra mão dela. Os músicos começaram a marcar o ritmo. A menina sabia que a dança iria começar devagar, e iria crescendo, e que o círculo iria girar em perfeita ordem, tornando-se mais e mais rápido.

Ela conhecia os passos. Ela tinha visto isso várias vezes. Mas não sabia que todos os súditos iriam cantar a sua música que já ressoava por todos aqueles que estavam na roda:

Estou limpa! Estou limpa!

O Rei tem-me feito pura!

Ela está limpa! Ela está limpa!

O Rei a tornou pura!

E a roda girava mais e mais rápido. Os súditos do Rei cantavam e dançavam, regozijando-se. Mas ninguém cantava mais alto e nem dançava com mais força do que a Suja, que se tornou Alimpia, . . .a limpa.

E então a menina porca deixou os seus porcos por Aquele que ela amava. E ela ficou sendo a limpa, que tinha um carinho muito especial por todas as coisas feias, pois sabia que um Rei pode achar algo lindo em qualquer monte de lixo.


Obrigada e Have Fun!

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