domingo, 10 de abril de 2011

Contos do Reino #9- Dois Cavaleiros Barulhentos

Zacarias 4:6

Então ele me disse: "Esta é a mensagem do Senhor a Zorobabel: 'Não é pela força, nem com poder que vocês vencerão. Será pelo meu Espírito. Vocês, embora poucos e fracos, vencerão pelo meu Espírito.’”

Efésios 4: 11-16

E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo, para que não sejamos mais crianças, levados de um lado para o outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas, cresce e edifica-se a si mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza a sua função.

DOIS CAVALEIROS BARULHENTOS

Havia dois cavaleiros no Grande Parque que pensavam que eram Atalaias. O povo do Reino deu a eles os apelidos de Sr. Abobrinha e Sr. Abobrão e tentavam ser compreensivos; mas o título de cavaleiros já tinha há muito tempo saído de moda.


Sr. Abobrinha era comprido e fino e só enxergava à distância. Ele estava sempre tropeçando em raízes e pedras, porque ele não conseguia ver o perigo que estava perto dele. Sr. Abobrão era redondo e baixo e só enxergava de perto. Ele estava sempre se metendo numa fria, porque forçava a vista para ver o perigo à distância dele.

Os dois cavaleiros estavam sempre freqüentando os conselhos dos Atalaias no Pavilhão dos Atalaias. Ao final de cada encontro, depois que todas as contas já tivessem sido prestadas e todos os contos já reportados, o Atalaia Comandante solicitava para a promessa ao Rei. Ele gritava: "Como vai o mundo?"

E todos respondiam de volta: "O mundo não vai bem! Mas o Reino vem!" Cada Atalaia ¾ homem ou mulher ¾ levantava o seu machado e proferia: "Ao Reino e ao Rei!" E com isso marchavam saindo do pavilhão para pegar seus postos de vigia ou fazer as rondas.

Os dois cavaleiros gritavam essas mesmas declarações. Eles desembainhavam suas espadas dos seus coldres. Eles se ajuntavam em meio ao tumulto da saída do pavilhão e levavam seus cavalos a uma grande rocha. Abobrinha, resmungando e rosnando, empurrava o pesado Abobrão por sua vez para cima da sua sela. E, logo depois, Abobrão, por sua vez, puxaria o desajeitado Abobrinha para sua sela. Freqüentemente um deixava cair uma espada ou bandeira.

"Ô! Ô!" eles gritavam. "Você aí! Você se importaria de pegar a minha espada (ou bandeira)?"

Se ninguém parecia estar por perto, eles gritavam ainda mais forte. Quando ninguém aparecia, um dos cavaleiros teria que desmontar, e daí repetir todo o processo para montar tudo de novo.

Até os dois ficarem finalmente prontos, em cima dos seus cavalos, todos os Atalaias já teriam ido embora, as luzes do pavilhão já teriam sido apagadas; mas, mesmo assim, Abobrão gritava: "Em frente! Seguimos sob a autoridade do Rei!"

Mas, como era de se esperar, eles nunca pareciam encontrar o serviço que procuravam, porque o perigo sempre já tinha se encerrado, quando eles finalmente chegavam à cena.

"O que vale é a tentativa", Sr. Abobrinha lembrou o Sr. Abobrão um dia, quando os dois estavam se sentindo um pouco deprimidos. Eles inventaram uma música para os animar.

Um Atalaia é um Atalaia é um Atalaia

Ele protege o parque de qualquer tipo de gandaia

Seu grito faz todos tremerem

Seu brado faz todos estremecerem

E olha só o que aconteceu, exatamente nesta tarde: eles se defrontaram com o inimigo. Bem, eles pensavam que fosse o inimigo.

"Pare! Quem se aproxima?" gritou Sr. Abobrão. Seus olhos fracos não conseguiram identificar o homem correndo apressadamente pela trilha, mas ele pensou que podia pelo menos enxergar que a figura estava carregando uma arma.

"Pare?" questionou o homem. "Ué, sou eu. O Padeiro". O padeiro Chefe estava vindo da cozinha apressadamente com três pães fresquinhos que saíram do forno naquele momento, e ele ainda os estava equilibrando sobre sua espátula de madeira.

Os dois cavaleiros pensaram que ele tivesse dito, "Pauleiro". Pauleiros eram homens do Encantador, armados com paus, que se escondiam no mato, pelo Parque, prontos para darem pauladas em qualquer um que estivesse descuidado. Todos em Grande Parque ficavam agradecidos, quando Atalaias pegassem esses espiões; então, os cavaleiros tinham visões de glória.

"Vamos te ensinar algumas lições!" gritou Abobrinha e dirigiu seu cavalo até uma ponta da trilha. Abobrão foi tropeçando até a outra ponta e deu meia volta, colocando assim o Padeiro Chefe no meio dos dois.

Os dois cavaleiros colocaram em posição os seus visores. Os dois firmaram suas varas de combate. Os dois cavalos davam patadas no chão e fungaram.

"Avançar!" gritou Abobrão. "Vamos em frente!"

Os dois cavaleiros colocaram na pontaria o pequeno padeiro, que estava carregando com muito cuidado os seus três pães na sua espátula grande de madeira. Entre a miopia de um e o astigmatismo do outro, eles erraram completamente o alvo do adversário e com estilo derrubaram um ao outro das suas selas.

O Padeiro Chefe saiu ileso, mas os seus pães frescos foram pisados na terra.

"Agora eu vou ensinar a vocês algumas lições!" ele gritou, e deu umas pancadas e uns golpes nas suas cabeças com a sua espátula de madeira. Quando foi embora, as armaduras dos dois estavam cheias de entalhos e dentes. Mas Abobrinha e Abobrão sabiam que não deveriam comentar essa aventura infeliz.

Algumas semanas depois, no Dia das Nomeações ¾ quando méritos e medalhas eram dados em reconhecimento para vários Atalaias ¾ os dois cavaleiros chegaram um pouco atrasados para o evento no pavilhão. Eles tinham ficado tão entusiasmados ao ajudarem um ao outro com a armadura que ela tinha ficado enroscadas uma na outra. Até eles se desenroscarem e saírem às presas, eles chegaram ao pavilhão quando já estava tudo escuro. Mesmo assim, queriam dar uma olhadinha.

Estava tudo muito quieto, mais quieto do que qualquer outra vez que eles já tinham ouvido. Alguém estava sentado na frente do pavilhão, na plataforma. Era o Atalaia Comandante.

Quando os dois cavaleiros entraram, o Comandante levantou-se da sua cadeira. "Sr. Abobrinha e Sr. Abobrão, estive esperando por vocês. Uma reclamação foi feita contra os senhores pelo Padeiro Chefe, entre outros. Vocês estão sendo acusados de desfilarem como sendo Atalaias. Venham à frente!"

Os dois cavaleiros andaram até a frente. Clangue! Clongue! As suas armaduras chiavam ao marcharem até a plataforma. Os dois estavam vestidos com grandes penas enfiadas em seus capacetes, as quais eles tinham dado um ao outro para honrar suas condutas de heroísmo e bravura.

"Vocês já receberam qualquer tipo de cicatriz ou ferida por ajudar outros?" O Atalaia Comandante perguntou, muito calmamente. Abobrinha começou a falar da vez em que Abobrão ficou preso na sua armadura enferrujada e ele o tinha socorrido, mas pensou melhor e cortou o que iria falar. Eles balançaram a cabeça que não. Os seus capacetes chacoalharam.

"Vocês já lutaram contra fogo na floresta?" Mesmo que o Comandante não estivesse gritando, a sua voz ecoou no quarto vazio.

Eles, de novo, balançaram as suas cabeças. Sr. Abobrão perdeu o equilíbrio, tropeçou na sua própria bandeira e teve que dar alguns passos.

"Vocês já protegeram Grande Parque dos seus inimigos?"

Sr. Abobrinha gaguejou, "N-n-n-nunca, S-s-senhor", Ele nem queria lembrar-se do problema que tiveram com o Padeiro Chefe.

Mas, era como se ele tivesse lido a mente do cavaleiro, e o Atalaia Comandante apontou o incidente, ele mesmo. "Vocês lutaram contra o Padeiro Chefe, pensando que ele fosse um Pauleiro, mas vocês fizeram isso para buscar glória para vocês mesmos e não para proteger Grande Parque. Vocês queriam ser homenageados como Atalaias, mas sem adquirirem as habilidades de luta, a coragem ou sem se equiparem".

Sr. Abobrão conseguiu recuperar seu equilíbrio. Ele disse: "Senhor, somos muito bons em gritos de Atalaia. Temos composto músicas de batalha".

Os dois cavaleiros ficaram bem retos. Jogaram suas cabeças para trás. Suas penas balançaram e uma caiu até o chão. Eles gritaram:

"Em frente pela Causa!" soltaram um berro.

"Avançar!" bradaram.

"Como vai o mundo?"

Começaram a cantar: "Um Atalaia é um Atalaia é um Atalaia..." Mas o Comandante estava tão quieto, e o pavilhão tão parado, que a música logo desapareceu.

Os olhos do seu líder estavam como faíscas. "Vocês não sabem", ele perguntou sussurrando. (Era o sussurro mais alto que eles já tinham ouvido, e ecoou pelo pavilhão): "sabem-sabem-sabem-sabem".

“Vocês não sabem que o Reino não é barulho e sim poder?"

"Poder-poder-poder-poder". Este eco passou com mais força pelo hall.

O Atalaia Comandante plantou seus pés firmemente na plataforma. Ele levantou seus braços num gesto rápido. "Assim!" gritou o Atalaia Comandante. Um vento começou soprar. Woo-ooo-ooo-oosh! Os cavaleiros se abraçaram para não serem levados pelo vento.

"E assim!" disse o Atalaia Comandante de novo. Luz encheu seu corpo e brilhou como uma tocha pelo salão escuro.

"E assim!"

Kaboom! Um relâmpago estourou. Deu uma trovoada. Momentos depois veio chuva. O vento levantou o pavilhão das suas fundações. Começou a girar e girar em direção das nuvens. Os dois cavaleiros se debateram nas paredes, mas o homem na plataforma ficou em pé parado, resplandecente, seus braços erguidos, seus pés firmes, e seus olhos brilhantes como as estrelas.

Finalmente, o vento acalmou-se e assentou o pavilhão de novo na terra. A chuva parou. Não houve mais relâmpago. O trovão cessou. Tudo estava quieto e o salão ficou complemente escuro de novo.

Deste silêncio veio a voz do Atalaia Comandante: "De hoje em diante, não tomem para si mesmos nomes que vocês não merecem. Vocês não são Atalaias. Vocês não defendem o Reino e nem protegem os desamparados, nem lutam contra o inimigo. Não confundam as proezas de outras pessoas como sendo as suas. Não pensem que palavras são coragem. Podem achar os seus lugares no Reino, mas não finjam ser o que não são".

Tudo estava quieto de novo. O único som era o dos passos do Atalaia Comandante saindo do hall. Os dois cavaleiros ficaram lá, no silêncio, um bom tempo. Era a primeira vez que tomavam conhecimento do poder do silêncio.

Abobrinha e Abobrão nunca mais disseram que eram Atalaias ¾ tão pouco pensaram que eram. Nunca mais foram a caçadas ou rondas e nem ficavam dando o grito dos Atalaias.

Ao invés, eles decidiram viver perto do Portal de Pedras e conduzir passeios de boas-vindas para os recém-chegados ao Grande Parque.

Eles deixavam crianças pequenas andarem nos seus cavalos e as faziam rir e contavam histórias das bravuras dos Atalaias. E se contentaram com seus lugares apropriados no Reino.

E, então, os dois cavaleiros nunca mais se enganaram. Pois, quando alguém vê, ouve e conhece a coisa real, nunca mais confunde barulho com poder.


Obrigada e Have Fun!

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