sexta-feira, 8 de abril de 2011

Contos do Reino #7- O Padeiro Que Amava Pão

Isaías 53:4-5

Apesar disso, Ele colocou sobre Si mesmo as nossas dores, Ele mesmo carregou nosso sofrimento. E nós ficamos pensando que Ele estava sendo castigado por Deus por causa de Seus próprios pecados! A verdade, porém, é esta: Ele foi ferido por causa de nossos pecados; seu corpo foi maltratado por causa de nossas desobediências. Ele foi castigado para nós termos paz; Ele foi chicoteado ¾ e nós fomos curados!

1 João 4:21

Ele nos deu este mandamento: Quem ama a Deus, ame também a seu irmão.

Mateus 25:34-40

Então o Rei dirá aos que estiveram à sua direita: "Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram”. Então os justos lhe responderão: "Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? ... O Rei responderá: "Digo-lhes a verdade: o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram".


O PADEIRO QUE AMAVA PÃO

Era uma vez um Rei que passeava pelo mundo afora — aqui, acolá e em todo lugar. Ele se tornou pobre para ser como as pessoas que ele amava, e ele vivia entre os rejeitados para poder sentir a sua dor.

A padaria ficava escondida no coração da Floresta Profunda, perto da abertura onde as Grandes Celebrações eram realizadas. Era importante para o Padeiro Chefe que os pães fossem servidos às mesas do banquete direto do forno — quentinhos e fresquinhos. Ele tinha cuidadosamente planejado esta vila: as casas eram feitas de pedras, onde os padeiros moravam, assim como os muitos fornos no lado de fora — alguns grandes, outros pequenos, alguns com fogo bem forte e outros só com o necessário para colocar o carvão. Cada um feito para assar os vários tipos de pães de uma maneira perfeita.

Esse padeiro tinha se esforçado muito para tornar-se o chefe. O seu pai era padeiro e o seu avô também, mas ele tinha o seu próprio jeito genial de fazer pão. A sua massa era mais leve e mais nutritiva do que qualquer outra dos seus ancestrais. Todos os tipos de massas — trigo, centeio ou milho — com o seu toque tornavam-se deliciosas e davam água na boca.

Uma particularidade desse Padeiro Chefe era que ele gostava muito de fazer pães especiais para as Grandes Celebrações. Ele adorava trançar e enfeitar os pães. Adorava inventar receitas novas para pães doces. Amava também biscoitos, bolinhos, brioches, e croissants. Adorava ouvir as exclamações dos súditos do Rei quando, pomposamente, o desfile do banquete tinha início e os seus muitos padeiros carregavam em grandes cestos as suas criações.

"O Padeiro Chefe conseguiu de novo!" todos sempre exclamavam. "Ninguém consegue fazer pão que derreta na boca como estes!"

E o Padeiro Chefe sabia que o pão dava uma força especial; então, ele preparava alguns cestos de pães de centeio para alimentar aqueles que gastavam as manhãs nos campos de treinamento. Ele admirava os Atalaias e gostava de preparar pães nutritivos de abóbora e queijo para eles levarem nas suas vigílias.

Isso, entretanto, era o máximo que fazia. Ele se recusava a mandar cestos de pães para a velha Misericórdia, mesmo porque ela nunca havia pedido a ele isso. Ela tem um forno e receitas que são dela, pensou o Padeiro Chefe. E ainda mais, iria só encorajar ela e aquele seu marido doido, ficarem enchendo o Grande Parque com pessoas estranhas. Se esses defeituosos tinham tanta coisa de errado, devia ser que fizeram algo para merecerem isso. Com certeza não eram dignos de comerem os pães do Rei.

Um dia o Padeiro Chefe estava inspecionando a sua nova invenção, uma roda mecânica que amassava trinta pães de uma vez só. Genial, pensou.

Naquele momento, o Padeiro Chefe notou alguém se aproximando pela trilha que dava acesso à abertura, onde se localizava o complexo dos padeiros. Era uma mulher carregando um nenê em seus braços. Sua roupa estava toda rasgada.

O Padeiro Chefe procurou pelo seu assistente, mas notou que o menino estava abrindo uma massa para fazer uns docinhos. Todos os outros padeiros pareciam estar ocupados também: uns moendo trigo, outros medindo ingredientes e ainda outros de olho nos pães que estavam no forno. Eu mesmo vou cuidar desta intrusa, ele pensou.

Ele odiava interrupções. Para o pão sair bem, era uma questão de controle de horário. Tudo tinha que ser feito no momento certo. Um minuto antes ou depois e tudo poderia ser perdido.

"O que é que você quer?" ele perguntou à mulher, com uma voz áspera, ao encontrá-la na trilha.

Seu nené choramingou. Sua cabecinha não tinha força para levantar. "Por favor, senhor", a mulher respondeu. "Um pouco de pão. Nós nos perdemos no meio da floresta e não temos comido nada há dois dias".

Que estória bem inventada, pensou o Padeiro Chefe. Esse tipo de pessoa estava sempre procurando algo de graça, os preguiçosos. "Não dá prá você ver que estou fazendo as preparações para a Grande Celebração? Temos centenas de pães para fazer hoje. Não posso ser incomodado agora. Vai procurar Misericórdia. Ela está sempre dando comida a pessoas como você".

A criança choramingou de novo, e Padeiro Chefe pensou que a mulher estava tentando aparentar o mais patético possível. Condescendendo, desenhou um mapa na terra. "Este é o caminho até a Cabana do Cuidador", ele explicou.

Nem deu tempo para a mulher sair de vista quando o Padeiro Chefe percebeu que tinha algo se mexendo na floresta. Alguém estava se escondendo atrás de um arbusto. Um Queimador, talvez, tentando roubar um pouco do seu fogo. Algum tipo de ladrão, com certeza.

Padeiro Chefe fez de conta que iria descer a trilha em direção a floresta; mas de repente desviou-se e agarrou o molequinho que estava escondido atrás de uma árvore.

"Ahá!" ele gritou. "Exatamente o que suspeitava. Um ladrão tentando roubar um pouco de pão!" O menino estava tão sujo que o homem o segurou com o braço estendido.

"Não senhor! Não sou!" disse o menino chutando e esperneando. "Eu estava só tentando cheirar o pão. Tem um cheiro tão gostoso".

"E é só isso que vai fazer? Vai ficar só no cheiro? Não se atreva a entrar nas instalações da padaria. Não vou ter pessoas achando pulgas assadas no seu pão. Pode puxar o carro! Se eu te pegar por aqui de novo, vou te assar!"

Padeiro Chefe chutou o moleque algumas vezes, até ele começar a correr, e depois jogou algumas pedras em sua direção, enquanto ele tentava escapar pela trilha abaixo.

Nem deu tempo para o moleque sair de vista, quando as trombetas de aviso de perigo soaram das profundezas da floresta. Croi-e-e-e-e-e-e-e-e! Croi-e-e-e-e-e-e-ee! Era o sinal de perigo. O primeiro toque foi respondido por um outro e o grito arrepiante caminhava mais e mais à distância, na medida que cada Atalaia ecoava a mensagem.

Padeiro Chefe ouviu um tumulto nas instalações da padaria. Dois padeiros estavam segurando um estranho que se esforçava para livrar-se. O Padeiro Chefe pegou firme numa grande colher de madeira e se intrometeu na briga. Só de olhar dava para perceber que o homem tinha más intenções. O Padeiro bateu no homem com a grande colher de madeira—uma vez, duas, três vezes—e, finalmente, o estranho caiu ao chão, ferido.

"A gente pegou ele tentando roubar pão, senhor", explicaram os outros padeiros.

Roubar meu pão, pensou o Padeiro Chefe. Vou dar uma lição nele. Bateu no homem, repetidamente, até ele estar certo de que o homem não tinha nenhum truque sobrando. Finalmente, o estranho conseguiu ficar em pé e escapar pela floresta.

Croi-e-e-e-e-e-e-e-e! o sinal de alerta ressoou mais alto ainda.

De repente, um bando de homens e mulheres de capas azuis emergiram da floresta. Vários deles estavam carregando um homem que parecia estar morto.

"Prá trás! Abram caminho!" ordenou um Atalaia, quando os padeiros vieram correndo para ver o que tinha acontecido.

"Prá trás! O Rei está ferido! O Rei está ferido! Abram caminho! Abram caminho!"

Um grito de horror subiu pelo acampamento dos padeiros. A pessoa ferida era o Rei!

"Padeiro Chefe", um dos Atalaias chamou, "ajude-nos a cuidar do nosso Rei!"

"Aqui! Tragam-no para cá!" ele respondeu, disposto a fazer o que pudesse.

O Rei foi carregado até a casa de pedra do Padeiro e o deitaram na sua cama. Um fogo foi acesso na lareira. Uma vigia foi escalada para certificar-se de que nenhum perigo mais viesse, e um sinal foi dado pela floresta para notificar Misericórdia. Ela saberia como ajudar. As aves e as criaturas, a própria terra lamentavam a notícia terrível. O Rei está ferido...O Rei está ferido... O Rei...O Rei....

"Quem que fez isso?" perguntou o Padeiro Chefe. Mas ninguém parecia saber, pois o Rei não tinha dito uma palavra, desde que levantaram seu corpo inconsciente do chão da Floresta Profunda.

Se eu descobrir quem foi que feriu meu Rei, pensou o Padeiro Chefe, com alegria bateria neste inimigo com a minha colher de madeira. Ele se lembrou de como fizera um excelente trabalho com aquele estrangeiro que tentou roubar pão.

Misericórdia finalmente chegou. Ela se curvou por cima daquela forma sem vida e terrivelmente parada em cima da cama do Padeiro Chefe. Seus olhos se encheram de lágrimas. "Me dê seu machado," ela disse ao Atalaia em pé ao lado do Rei. "Rápido!" Chamas refletiam-se nas marcas do machado. Finalmente, ela achou as marcas que estava procurando. E logo depois, com seus olhos fechados, pressionou-as aos lábios e o coro veio: uma música suave e lenta de cura e paz.

A senhora idosa veio até a cama e sentou-se ao lado do Rei. Colocou uma das mãos atrás do pescoço do jovem Rei e a outra em seu peito. Ela encostou a sua testa na dele. Ali ela ficou, pela longa tarde e até anoitecer, com a música do machado ecoando no quarto.

Por toda aquela longa noite, os súditos do Rei o guardaram em seus corações. Cada um se lembrou do amor do Rei. E a floresta estava quieta. Grande Parque ficou na expectativa. Até a lua retardou seu curso. As pessoas que estavam no quarto do Padeiro Chefe notaram a testa limpa do Rei, sua face nobre, o cabelo castanho brilhando com reflexos de ouro, caindo até o travesseiro, e a pele pálida.

Finalmente, ao chegar a manhã, Misericórdia ficou em pé. Ela estava tão pálida quanto o Rei. "Ele estará bem", ela sussurrou. "A ferida foi superada. Dê algo para ele comer quando acordar, e me leve para um outro quarto".

Todos no quarto sentiram-se aliviados ao ouvirem as palavras de Misericórdia. Tiveram vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. Em segundos, o grito dos Atalaias se espalhou pela Floresta Profunda. "Como vai o mundo?"

"O mundo não vai bem...".

"Mas o Reino vem! ... O Reino vem!".

Todos sabiam, do menor ao maior, que o Rei agora estava bem e o Reino intacto. Eles saíram para seus trabalhos com corações alegres, enquanto os passarinhos cumprimentaram a aurora.

Mais tarde, Padeiro Chefe trouxe uma travessa dos pães mais finos ao quarto onde o Rei estava descansando. Ele ficou aliviado ao encontrar o Rei sentado desajeitadamente na cama. Uma perna estava dobrada por baixo dos cobertores e seus braços por cima da cabeceira.

"O Senhor teve um tumulto na floresta?" perguntou o Padeiro, sem jeito, tentando ocultar a sua preocupação com a saúde do Rei. Ele colocou a travessa na cama e o aroma suave de biscoitos e pães doces encheu o quarto.

"É... mais ou menos", respondeu o Rei, abrindo um pão quentinho e cheiroso, recheado de frutas suculentas. Ele abaixou a cabeça. "Para a vida e tudo aquilo que a sustenta", ele disse baixinho. Ele deu uma mordida e continuou falando: "sempre disse: 'se vais entrar numa fria, melhor que aconteça perto do acampamento dos padeiros. O Padeiro certamente terá algo para comer. Ele te tratará como um rei' ".

Padeiro Chefe ficou vermelho com o prazer ao ouvir essas palavras. Tentando ser modesto, ele respondeu "Bem, senhor, o pão é do Rei".

O Rei deu outra mordida. Ele sorriu e numa voz suave disse, "É... O pão do Rei é para o povo do Rei, não é?"

O Padeiro estava arrumando o quarto às pressas, abrindo a janela, mexendo as brasas. "Sim Senhor", ele disse. Lembrou-se do Rei tão sem vida e imóvel. Ele se lembrou da longa noite de apreensão. De repente, a emoção de tudo aquilo que tinha acontecido apertou seu coração. Veio uma vontade forte de chorar. Ele olhou o Rei bem nos olhos. "Sabe, meu Senhor. Se eu soubesse quem foi que te feriu, eu daria uma nele, eu pegaria ele e..."

"Mesmo?" respondeu o Rei, e colocou de volta uma torta que estava em sua mão.

O quarto ficou silencioso. O Rei tirou a travessa de pães do seu colo, saiu da cama e foi até a janela. Padeiro Chefe observou as suas costas largas contra a luz brilhante da manhã.

Os sons de trabalhadores ocupados chegaram até eles. Padeiros cantando ao fazer a massa. Foles soprando. O bater das portas dos fogões. Pessoas chamando uma pela outra e a fragrância calorosa de coisas gostosas flutuava adentrando o quarto.

"Sabe, Padeiro", disse o Rei, virando os seus olhos para poder olhar para o Padeiro Chefe, "as minhas feridas não são iguais às de outros homens...".

Padeiro Chefe parou de fuçar. Ele estava na dúvida do que o Rei queria dizer.

"Quando uma pessoa do meu povo está com fome, Padeiro", disse o Rei, "eu também fico faminto. Quando uma pequena criança é machucada, eu também sofro. E até se o meu inimigo sente dor, eu o sinto na pele".

O Padeiro Chefe ficou encucado por um momento. Mas logo, como uma terrível cachoeira de memória, ele viu a face de uma mulher, quase desmaiando, que ele mandou embora. Ele viu os olhos de uma criança suja a quem ele tinha chutado e apedrejado. Ele ouviu o grito de um estranho quando batia nele vez após vez com a colher de madeira. Ele viu o corpo do estranho todo encolhido no chão; a dor nos seus olhos era semelhante ao olhar do Rei.

"Padeiro, é você que tem me ferido...sim, você".

O Padeiro caiu de joelhos: "Não eu, meu Senhor! Não eu!" Mas ele sabia que era verdade. Ele foi perseguido por um rosto e por olhos e por um grito. Ele tinha dado a um, terra, ao outro, pedras e ao outro, pauladas.

O Rei virou-se. A luz se irradiava em volta da sua cabeça. A luz da aurora atravessou o quarto e fez cair sobre a forma encurvada do Padeiro Chefe, a sombra do Rei.

"Meu Senhor, o que posso fazer? O que posso fazer?" chorou o Padeiro Chefe, sua cabeça encurvada até ao chão.

O Rei respondeu: "Alimente o faminto".

O Rei veio até o homem ajoelhado, em horror, no chão do quarto. Ele o levantou e o abraçou. "Alimente o faminto", ele sussurrou, "assim eu ficarei satisfeito...". Ele virou-se e saiu com passos largos, como se a morte nunca tivesse chegado perto.

Daquele dia em diante, o Padeiro Chefe fez questão que cestos de pães fossem levados à Vila dos Rejeitados, para todos os que não tinham como fazer o seu próprio pão. Mochilas de suprimentos de emergência foram deixadas em cada torre de vigia dos Atalaias para poder nutrir qualquer um que tivesse perdido o caminho, não importando se fosse bom ou mau de coração. Travessas de pães doces e tortas ficaram sempre à disposição no acampamento dos padeiros para dar as boas vindas aos visitantes. E biscoitos com o formato de animais, e enfeitados com cobertura de açúcar, foram colocados em caixinhas e enviados até a cabana de Misericórdia, para as crianças.

E o padeiro descobriu que alguém poderia amar o trabalho de suas mãos de maneira exagerada, e que devemos sempre amar mais o Rei. Amor pelo Rei é medido pelo amor que temos pelo seu povo. E, então, o Padeiro alimentou o faminto e o alimentou bem, para não ficar faminto Aquele que ele mais amava.


Obrigada e Have Fun!

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